Segue abaixo um texto escrito pela Yara Lourenço, professora do Madureira Horta, que faz uma reflexão muito interessante sobre este nosso momento político:
Aos colegas GREVISTAS e NÃO-GREVISTAS DA E.M. J.M.H
A Greve e a retomada da Dignidade
Para começar, este texto não busca o convencimento de ninguém, mas como diz o velho provérbio árabe, “há duas coisas que depois de lançadas não retornam mais para o lugar de onde saíram: a flecha lançada e a palavra proferida”. As palavras têm um poder enorme e por isso disponho delas nos momentos importantes de minha vida, seja de forma prosaica ou poética.
Bem, ao terminarmos uma Greve, que a princípio eu nem havia participado da Assembléia que a deflagrou, ficam alguns pontos, um saldo de reflexões e que bom se pudéssemos hoje “fechar para balanço” e podermos fazer, entre nós, grevistas e não-grevistas, uma avaliação desse movimento.
Como eu saio dessa GREVE? Saio de alma lavada, de cabeça erguida, sentindo que a nossa dignidade enquanto CATEGORIA DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO ainda existe e resiste... Que bom rever aquela quadra do Marconi lotada a cada assembleia, como nos tempos em que a conjuntura era bem outra, mas não nos calávamos diante das agruras que vivíamos...
Saio da GREVE com aquela gostosa sensação de PERTENCIMENTO, de ser uma pessoa única e ter minha individualidade, mas de me sentir parte quando o traço que nos une é o de sermos todos da mesma CLASSE TRABALHADORA. É gente, nós somos TRABALHADORES(AS)! Nós trabalhamos, vendemos nossa força de trabalho por um salário, que precisamos (todos nós) dele para sobreviver. Não somos sacerdotes ou sacerdotisas, a realizar uma missão na Terra e quem sabe, alcancemos, um dia, o céu... Deixemos essa visão para nossas práticas e crenças religiosas e espirituais... No campo das classes, porque ainda não existe outra organização (me desculpem os que não gostam de Marx) da sociedade capitalista e neo-liberal que não seja essa, não há sacerdócio no magistério: há profissionais, professores(as), trabalhadores(as) de um lado e um patrão público ou privado, de outro. Não nos iludamos...
Saio da GREVE, repito, com a minha dignidade enquanto categoria dessa Rede que ajudei a construir (afinal, 22 anos não são 22 dias...) com essa coletiva sensação de PERTENCIMENTO. Numa sociedade tão individualista, eu FAÇO PARTE DE UM GRUPO, EU ME IDENTIFICO COM ESSE GRUPO, PARTICIPO DAS DECISÕES DESSE GRUPO, ME COMPROMETO COM ELE... Aí está a diferença, ou melhor, o salto entre a INDIVIDUALIDADE e a COLETIVIDADE... Não nos iludamos: nesse campo não há conquistas sem lutas, não há força sem união, não há alegria sem dor, não há bonança sem tempestade... Afinal, é depois de uma noite escura que o Sol presenteia a todos com o seu brilho esfuziante ao amanhecer...
Saio da GREVE, com 4, 11% de reajuste (quando o que existia antes era 0%) e algumas outras providências a serem retomadas no campo pedagógico, com alguns comprometimentos da SMED (digo, Macaé e seus “assessores”) com relação a nosso dia-a-dia escolar. Mas principalmente saio da GREVE com a alegria de ter mais uma vez buscado forças para caminhar junto a esse categoria de professores(as) fenomenais que SÃO OS PROFESSORES(AS) DA REDE MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE... Saio com a alegria de sentir que a NOSSA DIGNIDADE PROFISSIONAL não está perdida... E se isso não está perdido, eu ainda posso crer ( e lutar) por mudanças...
“Quem sonhou só vale se já sonhou demais
Vertente de muitas gerações, cravado em nossos corações
Um nome se escreve fundo
As canções em nossa memória vão ficar
Profundas raízes vão crescer
A luz das pessoas me faz crer
Eu sinto que vamos juntos
Ó, nem o tempo, amigo, nem a força bruta pode um sonho apagar”
Beto Guedes/Ronaldo Bastos
Yara Lourenço, 13 de abril de 2010.
2 comentários:
Eu gostei do campeonato de xadrez o Isaque e o Matheus queremos participar mas a gente não sabemos jogar
Participei desta greve porque é meu dever lutar pelos meus direitos.
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